Afirmação forte, mas feita com a convicção de quem já trabalhou mais de 25 anos em empresas multinacionais, sendo 15 desses anos, dedicados a transformações digitais.
Participei de muitas renovações e evoluções bem-sucedidas durante esse período, é verdade, mas vi naufragarem as poucas e genuínas tentativas de inovação com potencial transformador de negócios, por onde passei, e não foi falta de argumentos, energia ou mesmo resiliência.
Inovação requer coragem e implica em encarar medo, risco e incerteza, afinal entramos em território desconhecido, explorando e testando hipóteses, aprendendo com as falhas, buscando encontrar caminhos possíveis. Os comportamentos sublinhados acima, infelizmente, não são incentivados ou reconhecidos no mundo corporativo, mas evitados e se adotados, podem comprometer carreiras ou mesmo o seu emprego.
Desconheço avaliações de desempenho ou reconhecimento interno que incentivem a um tomador de risco, que tentou fazer algo diferente, falhou, aprendeu e retroalimentou o sistema. Organizações tem muita dificuldade em lidar com a falha e isso compromete iniciativas genuínas de inovação.
Numa conversa com um Vice-Presidente de RH propus rever o sistema de remuneração da organização, especialmente o de pagamento de bônus, que mensurado anualmente, incentiva os comportamentos e ações defensivas de entregar o básico, sem correr riscos.
Recebi também um desafio de um CEO, que estava em busca de uma solução para uma característica da empresa, que havia ajudado a construir sua reputação, junto aos consumidores, mas que havia se diluído entre concorrentes nos últimos anos. “Me apresente algo inovador e que nos recoloque na liderança e como referência sobre esse tema novamente no mercado. Ah! Mas quero ver outros 2 ou 3 exemplos onde o que você irá propor já funciona com sucesso também.”
Oi? No briefing o projeto nasceu morto. Ignorando a preocupação em evitar qualquer risco, junto com outras lideranças foi criada uma solução inédita e com potencial, reconhecido por profissionais fora da empresa e de Venture Capitals. O que aconteceu? Não foi aprovado, pela falta de garantias que iria funcionar.
Somos programados para evitar riscos e temos medo de falhar, e essa é uma das maiores diferenças entre os mundos da nova e velha economias. Se existir qualquer alternativa, as pessoas abandonarão o ímpeto da inovação.
Enquanto isso, no ecossistema startup, as falhas são discutidas como forma de fortalecimento e aprendizado. Existe até uma conferência para esse fim chamada http://thefailcon.com/ e que tem eventos programados para Recife e Porto Alegre ainda esse ano.
A renovação, por outro lado, corre solta e se faz bastante presente nas organizações. Ela traz evoluções dos serviços ou produtos, sem alterar sua natureza principal – novos sabores, embalagens ou extensões de linhas na indústria de consumo e produtos complementares na indústria de serviços, por exemplo.
Iniciativas que implicam em “risco de falha” são testadas a exaustão, levando projetos a ciclos de meses ou até anos para sair do conceito à execução. Nesse contexto, as áreas de Inovação são extensões do departamento financeiro na tentativa de mapear e mitigar qualquer risco, enquanto poderiam ter budget e autonomia de assumir riscos e apresentar aprendizados às organizações.
Esse contexto faz com que os ciclos de inovação sejam bastante longos e essa complexidade, já não reflete a dinâmica de um mundo e ecossistema mais ágeis e em constante evolução. Renovar, portanto, apresenta um sentido de sobrevivência e não de exploração.
Acredito que atualmente não assumir riscos, potencialmente é o maior de todos os riscos.
Artigo publicado no Meio & Mensagem