Vivemos em tempos com acesso sem precedentes à tecnologia. Se antes ela era um limitador para executar nossas ideias, arrisco dizer que o limitador passou a ser a nossa própria capacidade de idealizar. E você pode até argumentar que determinada tecnologia ainda é cara ou instável, mas considerando a velocidade de desenvolvimento, em pouco tempo a maioria delas será quase uma commodity.
Essa evolução em ritmo exponencial demanda cada vez mais agilidade, num patamar provavelmente nunca antes exigido das organizações, especialmente daquelas provenientes da Velha Economia, criadas para grandes, mas lentos movimentos por seu tamanho e escala de atuação.
Adaptar-se a essa nova realidade, portanto, deixa de ser algo secundário para habitar as listas de prioridades da alta direção com reflexos táticos e, principalmente, estratégicos — em alguns casos até como fator de sobrevivência.
Ao mesmo tempo, observamos a proliferação de organizações nativas digitais surgindo e desintermediando modelos de negócios estabelecidos, como o de viagens, por exemplo, impactado pelo Hoteis.com ou AirBnB ou o financeiro, impactado pelo NuBank e GuiaBolso, só para mencionar alguns exemplos.
Já existe bom conteúdo disponível com depoimentos e guias de “como fazer a transformação na sua empresa”. Apesar de concordar com muita coisa escrita sobre esse assunto, meu aprendizado dos últimos 15 anos liderando transformações digitais em empresas nos segmentos de Serviços e de Bens de Consumo indica que existe um fator principal, que é base para o sucesso de qualquer transformação digital: a evolução da CULTURA.
Numa definição livrepara mim CULTURA é o conhecimento, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano e, consequentemente, por uma organização.
Disse Peter Drucker que “Cultura come Estratégia no café da manhã” e essa é uma verdade dura, mas real — já vivi isso na pele. Acredite! A melhor estratégia jamais irá sobrepujar a cultura de uma organização, mesmo com as melhores ferramentas, profissionais ou mesmo razões, fatos e dados. Sem os ajustes necessários na sua base cultural, caput! Não vai funcionar!
No intuito de trazer mais luz às mudanças necessárias, listo abaixo 5 pontos comparando organizações da Velha e da Nova Economia, que aqui vou chamar de “Digital by Design”, somente para reforçar que não importa ser velho ou novo, e sim estar preparado para prosperar num mundo digital.
Observe que todos os pontos acima são culturais. Nenhum deles requer investimento em tecnologia, ferramentas ou mais estrutura, que geralmente são os pontos de partida da grande maioria das tentativas de transformação nas organizações, mas que deveriam ser a sua consequência.
Vale lembrar que uma evolução cultural gera fricção, desconforto e impactos nos modelos e processos vigentes, mas sem ela você pode estar apenas enxugando gelo.
Viemos e crescemos numa época em que a confiança se dava pela autoridade, conquistada pela experiência ou até pelo porte da organização. Hoje a transparência já tem um peso significativo na escolha de uma marca, um produto ou um serviço.
A base de nossa educação foi construída para um mundo de escassez, no qual o "saber as respostas" era importante e diferenciador. Hoje a busca pelo "saber tudo" é um limitador, já que vivemos num mundo de abundância em que a mesma informação chega a muitas pessoas. O diferencial passa a ser, portanto, o "saber navegar" nessa fartura de informações, tendo a capacidade de fazer as boas perguntas e desenvolvendo a inteligência emocional para liderar e fazer conexões.
Se antes a busca pela perfeição e o controle eram um mantra, lançar um produto ou serviço “imperfeito” era terrível, uma desvantagem competitiva, agora, esperar a perfeição, pode significar nunca lançar um produto ou serviço, afinal como atingir a perfeição num mundo em evolução exponencial?
Admiro as empresas que evoluem por interação, co-criando com seus parceiros ou consumidores . Modelos não faltam, como o 70|20|10, popularizado pela Coca-Cola ou mesmo o que o Facebook, o Google ou o Spotify fazem — lançam versões Betas dirigidas aos seus consumidores mais fiéis e aprendem fazendo; se não funciona, simplesmente eliminam o produto ou retomam para a fase do desenvolvimento ou aperfeiçoamento.
Esses modelos exigem uma coragem, que acredito, é uma barreira grandes para os modelos organizacionais com base hierárquica. Já diz o ditado que a força de uma corrente é medida por seu elo mais fraco . Assim basta haver alguém desalinhado numa posição de comando para sabotar todo um processo, projeto, ou mesmo, uma organização.
Acredite! Existe até bibliografia de Guias de Sabotagem Corporativa e uma das técnicas mais curiosas é a de colocar alguém incompetente, desalinhado ou despreparado num cargo de liderança. O resultado é o travamento de uma organização e até de um país
Por fim, vale reforçar, que qualquer processo de evolução cultural vai tomar tempo e esforço, mas será importante para adaptar as organizações a novos tempos e dinâmicas entre pessoas, sejam elas seus colaboradores ou seus consumidores.
Acredito que temos aqui um tema que merece mais atenção e debate, pois é nele onde as organizações tem mais dificuldade e de onde surgem os maiores desafios.
O que você acha?